quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Cordão Umbilical: Por que postergar o corte?

O ato de cortar o cordão umbilical imediatamente após o nascimento tornou-se rotina entre a grande maioria dos centros obstétricos do Brasil. Mas será que existe um momento certo para a realização de tal prática? No dia oito deste mês foi publicada uma coluna no Estadão, intitulada de " 3 minutos a mais com a mãe", na qual um biólogo explica os motivos, baseados em evidências,  do por que não se deve cortar o cordão umbilical logo após o nascimento. O autor afirma que “Uma em cada quatro crianças apresenta uma forma branda de anemia na primeira infância. Mesmo na Europa, essa taxa é de 5%. Como a falta de ferro durante os primeiros anos de vida pode prejudicar o desenvolvimento neurológico das crianças, essa alta frequência de anemia infantil preocupa os pediatras. Agora, um grupo de médicos suecos descobriu uma maneira simples e barata de eliminar o problema. Basta cortar o cordão umbilical três minutos mais tarde". -que é o tempo aproximado em que o cordão umbilical para de pulsar.

Ele fundamenta esta idéia afirmando que “Toda criança nasce ligada à placenta pelo cordão umbilical. Nos instantes iniciais de sua vida fora do útero, ela ainda recebe o oxigênio necessário por meio do cordão umbilical. Logo em seguida, começa a respirar e, a partir desse momento, seu suprimento de oxigênio deixa de vir da placenta e passa a vir diretamente da atmosfera. Em seguida, um mecanismo fisiológico contrai o cordão umbilical, interrompendo o fluxo de sangue entre a placenta e o recém-nascido, e ele se torna independente da mãe”.  Mecanismo este que não é respeitado com freqüência.

De acordo com a coluna,  há muitos anos, sabe-se que “nos primeiros minutos após o parto, antes do fluxo de sangue ser interrompido pela contração natural do cordão, um volume razoável de sangue passa da placenta para o recém-nascido”. E acrescenta que nos seres humanos, esse volume chega a ser 100 mililitros, o equivalente ao de uma xícara de leite. Pensando nisso, foram feitos questionamentos como “Será que o ato de colocar um clipe e cortar o cordão umbilical imediatamente após o nascimento não estaria privando as crianças dessa xícara extra de sangue? E será que não seria essa a causa para a anemia observada em um número tão grande de crianças?” 
Para responder a tais questionamentos, foram analisados estudos cuja em resumo os resultados foram expostos pelo autor da coluna: “manter o recém-nascido ligado ao cordão umbilical por mais três minutos pode resolver grande parte do problema da anemia infantil”; caso o procedimento seja adotado nos hospitais. Apesar de compreendida o por que da prática de postergar o campleamento do cordão, há algo dentro desta problemática que ele ainda não compreendeu: “...por que  os médicos decidiram que o procedimento correto seria cortar o cordão imediatamente após o nascimento.” E acrescenta: “...Em partos complicados, existem muitas razões para cortar imediatamente o cordão, mas ninguém conseguiu me explicar por que esse procedimento foi adotado como padrão nos partos absolutamente normais.” 
Cabe então a nós mulheres nos apropriarmos dos nossos partos para que não venha a ser negligenciada mais uma prática cientificamente embasada e ao mesmo tempo tão simples de ser executada, nos centros obstétricos. Além disso, ainda podemos encontrar outro  questionamento: Será que compensa privar o bebê de tal oferta imediata, para armazenar este sangue que vem do cordão umbilical, em bancos de sangue para prevenção, caso venham a aparecer eventuais necessidades futuras, como muito se tem feito? Nota-se que a decisão esta centrada na seguinte questão: É preferível prevenir ou remediar?
O Parto é Seu. Empodere-se.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Importância do trabalho de parto no bem estar do recém nascido

Há estudos que mostram o trabalho de parto como responsável pela ativação de sistemas de sobrevivência do recém nascido. Você já se perguntou porque razão alguns mamíferos como o cachorro costumam lamber seus filhotes assim que eles nascem? Há muito tempo pensava-se que esta era uma espécie de conduta higiênica do animal. No entanto, Montagu (1988) afirma que o ato de lamber os filhotes é uma forma de ativar sistemas de sobrevivência deles, já que mamíferos não humanos passam por um tempo relativamente curto de trabalho de parto, tempo este geralmente insuficiente para ativar alguns sistemas de manutenção como genitourinario, gastricointestinal e em parte o respiratório. O autor percebeu que a cadela mãe é movida a esta ação devido a uma série de comportamentos inatos e reativos a odores, umidade, tato, temperatura dentre outros fatores. Ratas-mães também costumam lamber seus filhotes na região anogenital, no baixo ventre, depois na extremidade final das costas e por fim na parte de traz da cabeça, comportamento que também está relacionado com a ativação de importantes funções dos recém nascido. Ele afirma também que estudos feitos com estes mamíferos não humanos recém nascidos mostraram que a falha de funcionamento do sistema genitourinário dos mesmos relacionaram-se com a ausência de estimulação cutânea propiciada pelas lambidas da mãe. 


No entanto, estas respostas reativas inatas são débeis nas mães humanas. Mas felizmente, no caso humano, esta estimulação é compensada pelas contrações do útero sobre o corpo do feto; estes estímulos ativam os sistemas de manutenção que serão convocados a entrarem em ação logo após o parto. Isto se da por meio do estimulo de nervos  sensoriais periféricos localizados na pele que iniciam com impulsos nervosos conduzidos ao sistema nervoso autônomo até chegarem aos diversos órgãos que inervam. Quando a pele não tiver sido adequadamente estimulada, ocorre uma deficiência de ativação dos principais sistemas de órgãos. 
Além disso, é de extrema importância que o bebe passe pela compressão do canal de parto para o êxito de sua transição respiratória de placentária para pulmonar. Isso por que o pulmão do recém nascido é preenchido por líquidos pulmonares que precisam ser eliminados logo ao nascer para que ao invés de líquidos o pulmão possa ser preenchido por ar. No entanto, esta pratica de eliminar líquidos alveolares para garantir o êxito da respiração do bebê tem sido uma prática cada vez mais escassa devido ao grande numero de partos vaginais mal conduzidos e pelo excesso de cesarianas, cirurgia que impede a eliminação de tais líquidos devido à ausência da passagem pelo canal vaginal. Já estamos colhendo conseqüências epidemiológicas quanto a isto; É cada vez maior o numero de bebês afetados por síndromes e desconforto respiratórios.  Para Montagu “o parto normal é o abraço mais apertado que uma mãe da ao seu filho.”


Se então o parto natural é a melhor opção, precisamos assistí-lo adequadamente para que estas vantagens possam alcançar mais e mais recém-nascidos e tornar o parto normal uma opção primordial às gestantes.

‎"Quando é que vamos nos dar conta que nosso foco não deve ser combater as cesarianas desmedidas e abusivas, mas melhorar a assistência ao parto de tal forma que escolher uma cesariana para ter um filho tornar-se-á a mais tola das decisões?" - "Maximilian".

O Parto é Seu. Empodere-se.


 Fonte: Compilado por Ruth Hitomi Osava. Fisiologia Fetal e Neonatal; 2011.
 Montagu A. O útero do tempo. In: Tocar; o significado humano da pele. São Paulo; Sammus. 1988.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Uma sátira ao modelo obstétrico atual



Monthy Python - The Meaning of Life: The Miracle of Birth   trata-se de um curta metragem da década de 90, que teve como objetivo fazer uma sátira ao sistema obstétrico que vigorava no período, e que infelizmente retrada o  modelo obstétrico que  ainda prevalece no Brasil. Percebe-se que houve a preocupação de ilustrar o papel ocupado pela mulher no evento do parto e nascimento. Esta que antes era juntamente com o bebê a protagonista do parto e nascimento, passou a ser mera coadjuvante, sedendo aos poucos o protagonismo à classe médica, e as inúmeras intervenções que passaram a se tornar rotina.  Vejamos algumas das críticas apontadas pelo documentário:

  • O Protagonismo médico, o qual  recebeu  uma trilha sonora que nos remete ao heroísmo;
  • A mulher como coadjuvante, incapaz de dar a luz, e com necessidade de ser curada por médicos. “Ola não se preoculpe! Logo será curada por nós.” “Nem irá perceber o que te atingiu, adeus!” “Você não é capacitada”;
  • Administrador aéreo aos acontecimentos que ocorrem dentro das salas de parto, com foco exclusivamente nas vantagens lucrativas;
  • Supervalorização das inovações tecnológicas, a qual  também entra em cena com trilha sonora heróica. Tecnologias que por vezes são utilizadas por profissionais que nem mesmo sabem a finalidade da mesma e muito menos o momento em que esta tecnologia pode ser útil. Um exemplo é a ilustrada máquina de fazer “Ping”;
  • Questão do acompanhnte; “ marido não é parente , só permitimos a presença de pessoas envolvidas.” Apesar de existir uma lei que garante o direito de acompanhante da escolha da parturiente, esta ainda é negligenciada em muitos hospitais.
Precisamos com grande urgência resgatar o protagonismo da mulher no parto. É evidencia que paises como Holanda, Alemanha, os quais prezam pelo parto natural e o protagonismo à mulher, possuem os melhores resultados quanto ao índice de mortalidade materna e neonatal. Em contrapartida, O Brasil possui uma das maiores taxas de cesariana, cuja grande maioria destas cesarianas são eletivas.  Pela primeira vez, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais. Tabulações feitas pela Folha no DataSUS, sistema do Ministério da Saúde, mostram que o percentual de partos cesáreos chegou a 52% do total em 2010. Em 2009, eles já tinham se igualado aos normais, sendo que a Organização Mundial da Saúde recomenda uma taxa em torno de 15%. Acompanhados destes índices, o Brasil possui elevada taxa de mortalidade materna, que supera as taxas de paises como Haiti, Líbia por expemplo. Vamos resgatar o protagonismo das mulheres brasileiras no parto; fomos divinamente capacitadas para isso, e podemos contribuir imensamente na transformação destes índices.
“O Parto é Seu. Empodere-se”.